Educação
em ação
Por
Gilmar
Henrique
(Estratégias
e perspectivas interdisciplinares em prol da cidadania)
PARTE
II – A JUSTIFICATIVA
É no âmbito das especificidades da ignorância, tanto
a involuntária (cuja percepção leva
ao desafio do saber – vale a pena investir nesta categoria) quanto a intencional (dos dogmáticos e dos
hiperespecializados em certas áreas do saber
científico ou teológico – campo não muito promissor) que iremos
justificar a relevância social deste projeto. Ambas as especificidades da
ignorância geram uma pletora de inconveniências sociais e subjetivas. Itematizá-las e defini-las sobre
qualquer perspectiva gnosiológica seria aventurarmos na compilação de uma
produção enciclopédica. Portanto, vamos nos ater, apenas,
às necessidades naturais e básicas das vidas social e
individual dos cidadãos naquelas instituições previamente mencionadas.
Reforçando, ainda mais,
o sentido do parágrafo anterior,
afirmamos que tanto a ignorância involuntária como também a intencional são solos férteis para a disseminação (mais para a involuntária) e proliferação (mais para a intencional) sistemáticas de opiniões e valores alienatórios.
Alienação, a grosso
modo, poderia ser definida, em síntese de perspectivas psicossocial e
filosófica, como um estado psicológico (das psicologias) gerado e
promovido pelas forças ptolomaicas ou
centrípetas (da filosofia) de um determinado estado histórico social de classes dominantes (das ciências sociais),
por meio, principalmente, da linguagem verbal (da lingüística). É aí que se
percebe a importância de uma aproximação (abordagem) interdisciplinar e
eclética para dar conta da multiplicidade de aspectos que compõem a natureza
humana em sua totalidade enquanto ser biológico, psicológico e sociológico,
isto é, abordagens que contemplem, não
apenas em nuanças descritivas, os aspectos estruturais do ser humano: físico,
mental e social, respectivamente.
Para Hegel, o sujeito alienado é aquele que se torna
alheio a si mesmo. Uma vez nesse estado patológico, deixa de ser sujeito e passa a ser objeto.
Vamos mostrar, com bastante tristeza, o quanto é comum a manifestação
desse processo de reificação do sujeito (em pleno vigor) na sociedade e em suas
várias categorias, a saber: trabalho
alienado; consumo alienado; lazer alienado; relação social alienada; relação
pessoal alienada e saber científico alienado. Essas categorias contemplam
todas as atividades interacionais do cidadão em seu meio social.
Apresentaremos, a
seguir, as definições de Gilbert Cotrim (1999, p. 39) para cada tipo de
alienação itematizada na parágrafo acima e, em seguida, explicaremos como se
manifestam esses estados psicossociológicos no cenário social:
Trabalho alienado: situação em que
a produção econômica tornou-se o objetivo do homem, em vez de o homem ser o
objetivo da produção.
Em outras palavras, podemos dizer que não há, nessas
circunstâncias, uma relação direta do trabalhador com o resultado final do que
ele produz, pois ele trabalha para satisfazer as necessidades do mercado. Sendo
assim, não é de se estranhar que a
maioria dos trabalhadores desempenham atividades alienadas. Por exemplo,
enquanto um pedreiro constrói edifícios suntuosos, é muito provável que ele não
tenha sequer uma casa confortável para
morar.
Vendo esta questão do ponto de vista da psicologia comportamental, o trabalho
alienado é um comportamento respondente estimulado por reforçadores
generalizados que têm por fim a satisfação indireta de necessidades
básicas, tais como alimentação e afeto.
Estes são chamados de reforços primários enquanto aqueles, emparelham-se
com os secundários - o comportamento que é o trabalho, tendo por
finalidade o dinheiro e a aprovação social – o afeto. Tanto o dinheiro quanto o
desejo de aprovação social são denominados de reforçadores generalizados. Daí, saindo desse trabalho alienado,
passaremos a definição do seu fim
correspondente – o consumo alienado.
Consumo alienado: situação em que
não existe uma relação direta e real entre o consumidor e a coisa adquirida,
resultante de desejos e fantasias artificialmente inculcados.
Nesse
caso, a pessoa adquire um produto ou serviço motivada muito mais pelo prazer de
posse e afirmação de status social do
que mesmo pela necessidade da prestação do serviço que o produto oferece. Esse
fenômeno acontece porque a máquina publicitária, fruto da indústria
capitalista, faz efervescentes proselitismos a favor de uma “filosofia” de vida
do ter para ser. A mola propulsora usada por esse sistema capitalista para
aquecer as atividades do mercado financeiro e eliciar consumo alienado chama-se
neofilia, ou seja, o amor obsessivo
pelas novidades: o carro do ano; o computador de última geração; os aparelhos
de telecomunicação em células multifuncionais e, até mesmo, apelos de extrema
absurdeza, como por exemplo, a cor que está na moda. Deste modo, afirma Cotrim
(1999, pg. 33): produzir objetos que logo
se tornam obsoletos é um princípio fundamental da indústria capitalista.
Uma vez em posse do aparelho “telefônico” celular com múltiplas funções
supérfluas, já está na hora de exibi-lo e ir se divertir, em trajes
hollywoodianos, no badaladíssimo shopping
centre. É hora do lazer.
Lazer alienado: situação em que
não há um envolvimento autêntico (prazer) da pessoa com a atividade de lazer.
Outra esfera de atividades profícuas do capitalismo selvagem é a
hilariante e atrativa face da indústria cultural. Esta, muito ávida por
operações comerciais, promove uma verdadeira banalização da cultura de massas.
Entende-se por cultura de massas ou
popular produtos como televisão, cinema, rádio, música, dança, moda, arte e
literatura. Segundo os pensadores da Escola de Fankfurt, a banalização da cultura
destinada às grandes massas populares é uma estratégia utilizada pela elite,
detentora dos meios de divulgação, com o
objetivo de impedir o desenvolvimento intelectual das pessoas, tornando-as mais
fáceis de serem manipuladas e servirem a seus propósitos.
Dessa forma, um grande número de pessoas superlotam os suntuosos centros
comerciais (shopping centers) das grandes cidades movidas, principalmente,
pelo desejo de serem vistas nesses ambientes. Comportam-se como cidadãos de
metrópoles estrangeiras. Assistem, acriticamente, e na maioria das vezes, a
péssimas produções cinematográficas holliwoodianas
que a empresa publicitária divulga, exaustivamente, usando como engodo, o
despertar do grande prazer dos sentidos, mostrando, para tanto, atores e
atrizes que se enquadram num modelo
estereotipado de belezas masculina e feminina. Na sequência, depois do
desenlace do enredo, com aquele trivialíssimo beijo do belo casal que anuncia e
aponta para um final feliz da sessão vespertina, voltamos para as nossas
relações sociais.
(VIDE CONTINUAÇÃO NA PARTE III)
Nenhum comentário:
Postar um comentário