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domingo, 28 de novembro de 2010

Educação em ação ( 3 )


CONTINUAÇÃO DA PARTE II-A

Relação social alienada: situação marcada pela indiferença recíproca entre as pessoas, pela ausência de troca de experiências e sentimentos verdadeiramente humanos.

Ora, o ser humano é, por natureza, um ser gregário. Visto por esta perspectiva, estamos no campo da ecologia, isto é, da relação do ser com o seu meio ambiente e suas conseqüências. Porém  para darmos conta das sutilezas conceituais desse sistema ecológico que nos envolve é necessário revezarmos teorias antropológica, ecolinguística e sociolingüística. Do ponto de vista antropossociológico os ser humano se socializa por interesse comum e dependência recíproca. Esse processo de dá por meio da comunhão. O espírito de comunhão tem  base instintiva e parte da necessidade de identificação e sobrevivência da espécie.
Ainda assim, há relação social alienada quando os contados interpessoais se reduzem apenas ao ritual social  da comunhão fática. Esta expressão foi apresentada, inicialmente, pelo antropólogo polonês Bronislau MALINOUSKI (1972) para se referir a um tipo de comunicação na qual se estabelece contatos sociais por mera troca de palavras. E por falar em palavras já entramos em territórios lingüísticos. Neste âmbito, afirmamos que a maioria dessas expressões, utilizadas no dia-a-dia nos contatos interpessoais, são ritualísticas e perfunctórias. Entre outras opções, recorremos às obras lexicográficas do Aurélio Buarque de Holanda para legitimarmos uma definição da palavra perfunctório e extrairmos, em seguida, um excerto, por ele apresentado, para exemplificar sua definição:
Perfunctório é o que se faz como simples rotina funcional, e não por necessidade ou visando a um fim útil; superficial, ligeiro:

“Como orador sagrado, Macedo deveu a popularidade de que gozou a um falso brilho no fundo das idéias, e sobretudo a essa instrução perfunctória que começa a invadir a capital e que é mais danosa às letras do que a ignorância” (Alexandre Herculano, Opúsculos, IX, p. 15.)


Não obstante as situações ilustrativas mencionadas acima,  a comunhão fática pode ser positiva quando servir (de rapport)  a um tipo de interação preparatória  a outras formas de interação. São exemplos de comunhão fática nas ciências da linguagem as expressões de saudações tais como:  - “Bom dia, como vai?”;   - “Oi, tudo bem?”  Expressões como estas podem está no plano da alienação quando o propósito de seu uso tem outras finalidades. Por exemplo, um colega de trabalho chega e diz: - “Bom dia!!!” Quando na verdade ele não está interessado nisso, mas na intenção de lhe dizer que veio ao serviço. Ele poderá no futuro precisar do testemunho do colega quanto a sua  presença ao trabalho, caso isso seja necessário.

Entretanto, o mais grave nas relações sociais alienadas é o estado generalizado de impassibilidades ou indiferenças recíprocas entre as pessoas. Segundo COUTRIM, elas não são nem muito amigas nem inimigas.

É muito comum hoje em dia um cidadão presenciar com indiferença atos de crueldades contra pessoas e animais. Mas, lá na frente, quando chegar a seu ambiente de trabalho, esse mesmo cidadão que passou indiferente a um ato cruel que presenciou, cumprimentará seus colegas de trabalho mui “cordialmente”.
Outro ponto que merece nossa atenção nessa categoria é a forma distorcida como nós, brasileiros, percebemos o cidadão estrangeiro. Vemo-lo como se envolto a uma aura de raça e cultura superiores. Esse fenômeno chama-se, nas ciências sociais,  de xenofilia.

Xenofilia é um estado psicológico fundamentado na cultura, principalmente, de países pobres e, também, de países emergentes. Portanto, é um problema social. Esse transtorno psicossocial se caracteriza  como uma supervalorização e adoração por pessoas e culturas estrangeiras, especialmente de países ricos. O xenófilo se vê como um cão vira-lata perante qualquer pessoa estrangeira, porém extremamente arrogante perante seus conterrâneos e altamente crítico quanto a sua própria cultura. Por outro lado, naqueles países ricos, esse fenômeno se dá de forma inversa: xenofobia – aversão a estrangeiros.
Recentemente, ocorreu algo aqui no Brasil que ficará, acreditamos, como um exemplo clássico de como os brasileiros são alienados nesse sentido. O famoso ator estadunidense de filmes medíocres Sylvester Stallone  quando em sua rápida visita ao Brasil, fez a seguinte afirmação, talvez até para nos despertar: “filmamos no Brasil porque lá você (nós estrangeiros) pode machucar as pessoas enquanto filma”. “Você (o estrangeiro) pode explodir o país inteiro e eles ainda dizem para você:  ‘obrigado’ e tome aqui um macaco para você levar para casa”. Esta situação se consagra, por ter vindo de uma pessoa famosa, como um exemplo clássico que nos mostra, na sua íntegra,  em que ponto se encontra  o nível de alienação cultural do povo brasileiro: ALTÍSSIMO.

Faremos um hiato, aqui, neste texto, para acrescentarmos um comentário extra a esse respeito: Por que os alienados, no Brasil inteiro, ficaram tão ofendidos com o comentário do Stallone? Ora, por mais leigo que se possa ser em psicologia, logo nos vem à mente o fato de que nos angustiamos com a percepção de nossos defeitos.  Para evitarmos esse estado psicológico desagradável, não aceitamos tal revelação e para escondê-lo, partimos para o ataque sob formas de mecanismos de defesa - daí  saem os mais absurdos disparates, isto é, argumentos desarrazoados. Outra possível resposta para essa questão pode ser apresentada tendo por base teórica o conceito do psicanalista húngaro Sándor FERENCSI sobre o que ele define como caráter. A esse respeito, ele afirma que os traços de caráter são geralmente egossintônicos. Mesmo em nível patológico, esses traços passam despercebidos pelo sujeito por considerá-los normais – quem é chato não se acha chato. Da mesma forma, quem é alienado, arrogante, orgulhoso, fanático etc. não se vê assim.

Por isso, afirmamos: “Precisamos, SIM, de uma lingüística aplicada ao ensino de línguas estrangeiras - CRÍTICA, neste país para a formação dos profissionais que atuarão nessa área”.

A propósito, a era pós-moderna situou o cidadão em duas sociedades:  uma é a sociedade concreta e a outra é uma abstração da primeira, por isso herda e reveza características idênticas . O processo de emigração dos cidadãos das sociedades concretas para as sociedades virtuais foi rápido. Por analogia, podemos citar que o mesmo fenômeno observável nas relações interpessoais concretas e alienadas nos grandes centros de burburinhos das cidades, é real para as virtuais. Dito assim, nesse contra-senso,  por oximoro, como um paradoxo para sair do real e se adequar à natureza dos aspectos da realidade virtual. Nada melhor para ilustrar um modelo de comunhão fática nas sociedades virtuais do que os twitters (do inglês – gorjeios; piados) que o “abstrator” utiliza para se mostrar presente nesses lugares. Geralmente, esse processo se dá por aquelas pessoas que preferem gorjear, piar, ou “twittar” em linhas abertas a terceiros – o sujeito envia para um colega uma mensagem, mas o objetivo é que esta seja vista por outrem. A esperança de que terceiros que habitam o imaginário dos twitteiros irão ler essas mensagens forma um esquema de gratificação intermitente responsável pela manutenção dos diálogos frívolos: - “E aí, galera! Hoje é sábado. Que tal uma bem geladinha mais tarde lá no Schinnaum?” – “Tô nessa, ô, Bebeto. A doidinha aqui também tá ligada”.  - Bebeto é o cara, comenta o bisbilhoteiro e gratifica, assim, o twitteiro alienado.
Bom, agora está na hora de nos recolhermos à nossas relações pessoais.


Relação pessoal alienada: situação em que o indivíduo perde o contato com seu verdadeiro eu, e sente-se como coisa, mercadoria no mercado das personalidades.
A esse respeito FROMM, citado por COTRIM (1999, pg. 34) afirma que

 “Como o homem moderno se sente ao mesmo tempo como o vendedor e mercadoria a ser vendida no mercado, sua auto-estima depende de condições que escapam a seu controle. Se ele tiver sucesso, será “valioso”; se não imprestável. O grau de insegurança daí resultante dificilmente poderá ser exagerado”

Sucesso é a palavra-chave. Uma vez mercador e mercadoria (objeto de consumo) ao mesmo tempo, o que importa nessas circunstâncias, é o êxito que dependerá, também de circunstâncias específicas – as oportunidades,  das habilidades naturais e/ou promocionais que o “sujeito” tiver a sua disposição para conseguir se vender nas salas VIP’s  do mercado das personalidades. O “sujeito” (indivíduo subjugado) almeja, a todo custo, vender socialmente sua imagem por meio do sucesso profissional e, com isso, ter sucesso financeiro. Incluem-se, também, dependendo da especificidade do que se pretende vender: sucesso político; sucesso esportivo, sucesso sexual e, entre outros, o sucesso intelectual.
Neste último caso, contempla-se o saber científico alienado. À vista disso a paranoia da plataforma Lattes estimulou a produção de verdadeiros artigos de vaidades. Estes, em sua grande maioria, são elaborados, simplesmente para satisfazer uma compulsão narcisística nos moldes das condições pós-modernas.  A moda, agora, é lançar tudo que for de autopromoção na rede virtual de comunicação telemática. Muitos “pesquisadores” são incitados por  motivações alheias aos objetivos aparentes do que se propõem, pois servem, muito mais, para promover a imagem de si, nessa nova sociedade virtual, do que mesmo ao grande esforço do que vem a ser, genuinamente, uma boa contribuição social. Na verdade, o currículo na plataforma lattes tem se tornado um verdadeiro diário de bordo, um livro-de-ponto virtual  ou visitas diárias e compulsórias como aquelas de  adolescentes ensimesmados em suas  necessidades de anotar tudo nas agendas de outrora  as ações do dia-a-dia. Enquadram-se nesse grupo os ignorantes intencionais em suas respectivas especificidades do saber científico. A reificação do sujeito,  nessas condições, se dá quando,  o “pesquisador”, ao tornar público sua lida acadêmica nas plataformas lattes da vida por motivação extrínseca e, em outras instâncias, muitas vezes movido por um alto nível de baixa auto-estima, só está querendo reafirmar o seu valor comercial. Torna-se ”coisa” nesse processo de reificação do sujeito.  Porém, esse fato serve, também, para legitimar o seguinte dito popular “As coisas vêm de onde menos se espera”. 

Portanto, são por essas razões que, hoje, em tempo bastante remoto da filosofia clássica II dos séculos V e IV a. c., este projeto é elaborado, no âmbito da UERN,  e lançado à sociedade,  como um desafio às adversidades hodiernas,  no intuito de despertar a consciência crítica dos cidadãos desta  sociedade e mostrar-lhes, sob os múltiplos olhares dos grandes pensadores,  que ainda continuamos a interpretar projeções (sombras, silhuetas, fachadas, fuligens) do que se nos dá a luz daquilo que vem a ser, na alegoria platônica da idade antiga, o mito da caverna.











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