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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Educação em Ação ( 2 )


Educação em ação
Por
Gilmar Henrique
(Estratégias e perspectivas interdisciplinares em prol da cidadania)

PARTE II – A  JUSTIFICATIVA

É no âmbito das especificidades da ignorância, tanto a involuntária (cuja percepção leva ao desafio do saber – vale a pena investir nesta categoria) quanto a intencional (dos dogmáticos e dos hiperespecializados em certas áreas do saber  científico ou teológico – campo não muito promissor) que iremos justificar a relevância social deste projeto. Ambas as especificidades da ignorância geram uma pletora de inconveniências sociais e subjetivas. Itematizá-las e defini-las sobre qualquer perspectiva gnosiológica seria aventurarmos na compilação de uma produção enciclopédica. Portanto, vamos nos ater,  apenas,  às  necessidades  naturais e básicas das vidas social e individual dos cidadãos naquelas instituições previamente mencionadas.
Reforçando, ainda mais, o sentido do parágrafo  anterior, afirmamos que tanto a ignorância involuntária  como também a intencional são solos férteis para a disseminação (mais para a involuntária) e proliferação (mais para a intencional) sistemáticas de opiniões e valores alienatórios.

Alienação, a grosso modo, poderia ser definida, em síntese de perspectivas psicossocial e filosófica, como um estado psicológico (das psicologias) gerado e promovido  pelas forças ptolomaicas ou centrípetas (da filosofia) de um determinado estado histórico social  de classes dominantes (das ciências sociais), por meio, principalmente, da linguagem verbal (da lingüística). É aí que se percebe a importância de uma aproximação (abordagem) interdisciplinar e eclética para dar conta da multiplicidade de aspectos que compõem a natureza humana em sua totalidade enquanto ser biológico, psicológico e sociológico, isto é,  abordagens que contemplem, não apenas em nuanças descritivas, os aspectos estruturais do ser humano: físico, mental e social, respectivamente.

Para Hegel,  o sujeito alienado é aquele que se torna alheio a si mesmo. Uma vez nesse estado patológico, deixa de ser sujeito e passa a ser objeto.  Vamos mostrar, com bastante tristeza, o quanto é comum a manifestação desse processo de reificação do sujeito (em pleno vigor) na sociedade e em suas várias categorias, a saber: trabalho alienado; consumo alienado; lazer alienado; relação social alienada; relação pessoal alienada e saber científico alienado. Essas categorias contemplam todas as atividades interacionais do cidadão em seu meio social.

Apresentaremos, a seguir, as definições de Gilbert Cotrim (1999, p. 39) para cada tipo de alienação itematizada na parágrafo acima e, em seguida, explicaremos como se manifestam esses estados psicossociológicos no cenário social:

Trabalho alienado: situação em que a produção econômica tornou-se o objetivo do homem, em vez de o homem ser o objetivo da produção.

 Em outras palavras, podemos dizer que não há, nessas circunstâncias, uma relação direta do trabalhador com o resultado final do que ele produz, pois ele trabalha para satisfazer as necessidades do mercado. Sendo assim, não é de se estranhar que  a maioria dos trabalhadores desempenham atividades alienadas. Por exemplo, enquanto um pedreiro constrói edifícios suntuosos, é muito provável que ele não tenha sequer  uma casa confortável para morar. 

Vendo esta questão do ponto de vista da psicologia comportamental, o trabalho alienado é um comportamento respondente estimulado por reforçadores generalizados que têm por fim a satisfação indireta de necessidades básicas, tais como  alimentação e afeto. Estes são chamados de reforços primários enquanto aqueles, emparelham-se com os secundários - o comportamento que é o trabalho, tendo por finalidade o dinheiro e a aprovação social – o afeto. Tanto o dinheiro quanto o desejo de aprovação social são denominados de reforçadores generalizados.  Daí, saindo desse trabalho alienado, passaremos a definição  do seu fim correspondente – o consumo alienado.

Consumo alienado: situação em que não existe uma relação direta e real entre o consumidor e a coisa adquirida, resultante de desejos e fantasias artificialmente inculcados.

Nesse caso, a pessoa adquire um produto ou serviço motivada muito mais pelo prazer de posse e afirmação de status social do que mesmo pela necessidade da prestação do serviço que o produto oferece. Esse fenômeno acontece porque a máquina publicitária, fruto da indústria capitalista, faz efervescentes proselitismos a favor de uma “filosofia” de vida do ter para ser. A mola propulsora usada por esse sistema capitalista para aquecer as atividades do mercado financeiro e eliciar consumo alienado chama-se neofilia, ou seja, o amor obsessivo pelas novidades: o carro do ano; o computador de última geração; os aparelhos de telecomunicação em células multifuncionais e, até mesmo, apelos de extrema absurdeza, como por exemplo, a cor que está na moda. Deste modo, afirma Cotrim (1999, pg. 33): produzir objetos que logo se tornam obsoletos é um princípio fundamental da indústria capitalista. Uma vez em posse do aparelho “telefônico” celular com múltiplas funções supérfluas, já está na hora de exibi-lo e ir se divertir, em trajes hollywoodianos, no badaladíssimo shopping centre. É hora do lazer.

 Lazer alienado: situação em que não há um envolvimento autêntico (prazer) da pessoa com a atividade de lazer.
 
Outra esfera de atividades profícuas do capitalismo selvagem é a hilariante e atrativa face da indústria cultural. Esta, muito ávida por operações comerciais, promove uma verdadeira banalização da cultura de massas. Entende-se por  cultura de massas ou popular produtos como televisão, cinema, rádio, música, dança, moda, arte e literatura. Segundo os pensadores da Escola de Fankfurt, a banalização da cultura destinada às grandes massas populares é uma estratégia utilizada pela elite, detentora dos meios de divulgação,  com o objetivo de impedir o desenvolvimento intelectual das pessoas, tornando-as mais fáceis de serem manipuladas e servirem a seus propósitos.

Dessa forma, um grande número de pessoas superlotam os suntuosos centros comerciais (shopping centers)  das grandes cidades movidas, principalmente, pelo desejo de serem vistas nesses ambientes. Comportam-se como cidadãos de metrópoles estrangeiras. Assistem, acriticamente, e na maioria das vezes, a péssimas produções cinematográficas holliwoodianas que a empresa publicitária divulga, exaustivamente, usando como engodo, o despertar do grande prazer dos sentidos, mostrando, para tanto, atores e atrizes que se enquadram  num modelo estereotipado de belezas masculina e feminina. Na sequência, depois do desenlace do enredo, com aquele trivialíssimo beijo do belo casal que anuncia e aponta para um final feliz da sessão vespertina, voltamos para as nossas relações sociais.

(VIDE CONTINUAÇÃO NA PARTE III)
















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